A conta não
fecha. Vamos fazer mágica?
Tem coisa que
só acontece no Brasil — como olhar os números e desconfiar que a realidade está
mentindo. Segundo o noticiário de terno, gravata e entusiasmo ideológico, o
desemprego caiu, despencou, evaporou! É o menor em anos! Mas só se você aceitar
a maquiagem estatística que virou moda em 2024.
O truque é
simples: o IBGE trocou a lente. Agora, quem desistiu de procurar emprego
simplesmente some da conta. Não trabalha, não busca, não tem plano — mas puf!
também não está desempregado. É como esconder a poeira debaixo do tapete e sair
dizendo que limpou a casa com produto francês.
Enquanto isso,
em 12 estados, a fila do Bolsa Família já é maior do que a dos que batem ponto
com carteira assinada. O Maranhão lidera com folga. Lá, para cada trabalhador
formal, quase dois dependem do benefício. Se fosse campeonato, ganhava a
medalha de ouro e o cartão magnético.
No Maranhão, a
fila do pão é longa — não de quem quer comprar, mas de quem precisa receber.
Mais de um milhão de famílias no Bolsa Família. Trabalhadores com carteira
assinada? Metade disso. Se a estatística fosse um ônibus, teríamos dois
sentados no auxílio e um em pé com crachá da firma.
O Norte e o
Nordeste aparecem forte nesse pódio. Regiões historicamente empurradas pro
canto do ringue — sempre com luvas furadas. O governo estende a mão, e é bom
que estenda. Mas quando essa mão vira muleta vitalícia, alguma coisa está fora
da ordem. E não é só a fila do INSS — que também, aliás, não deixou de ser
saqueado.
Aí vem a parte
que dá nó no estômago e riso nervoso: se você começa a procurar emprego, pode
perder o benefício. Então instala-se uma lógica perversa: melhor não procurar.
Melhor sumir da estatística. Melhor parecer menos pobre do que ser pobre demais.
Lá no outro
extremo do mapa, em Santa Catarina, a matemática é outra: para cada
beneficiário, há dez trabalhadores formais. O Bolsa Família é coadjuvante, não
protagonista. Não porque o povo seja mais trabalhador ou use chimarrão — mas
porque há mais oportunidade, mais estrutura, mais chance. Ou seja: mais Brasil.
Margaret
Thatcher, com aquele sotaque britânico impaciente, já dizia: o sucesso de um
governo não se mede pelo número de pessoas que entram em programas sociais —
mas pelo número das que conseguem sair. Aqui, parece que quanto mais gente
entra, mais likes no vídeo do ministro. Fala-se em inclusão como se fosse
conquista — quando, muitas vezes, é apenas sobrevivência empacotada em
PowerPoint.
O povo não quer
esmola disfarçada de “justiça social”. Quer trabalho. Quer sair da fila do
benefício não por corte, mas por conquista.
Porque, no
fundo, é fácil alimentar a esperança com um cartão magnético. Difícil mesmo é
dar ferramentas para que o povo não precise mais disso — nem da dependência que
corrompe, acomoda… e rende voto.
Mas enquanto a
mágica funcionar e a narrativa render, que a realidade continue escondida nos
gráficos.
É mágica no
escuro. Se alguém acender a luz, revela o truque.
Por Marcelo Duarte Lins
Esse cara é o autor de alguns livros. Um é "Caso Varig- A história da maior tragédia da aviação brasileira". Seus textos atuais são cômicos, porém esclarecedores. Ele dá uma pincelada na política e nos assuntos em voga com mestria.
ResponderExcluirVou acompanhar‼️👏👏👏👏👏