segunda-feira, 5 de maio de 2025

A mágica para desaparecer o desemprego


A conta não fecha. Vamos fazer mágica?

Tem coisa que só acontece no Brasil — como olhar os números e desconfiar que a realidade está mentindo. Segundo o noticiário de terno, gravata e entusiasmo ideológico, o desemprego caiu, despencou, evaporou! É o menor em anos! Mas só se você aceitar a maquiagem estatística que virou moda em 2024.

O truque é simples: o IBGE trocou a lente. Agora, quem desistiu de procurar emprego simplesmente some da conta. Não trabalha, não busca, não tem plano — mas puf! também não está desempregado. É como esconder a poeira debaixo do tapete e sair dizendo que limpou a casa com produto francês.

Enquanto isso, em 12 estados, a fila do Bolsa Família já é maior do que a dos que batem ponto com carteira assinada. O Maranhão lidera com folga. Lá, para cada trabalhador formal, quase dois dependem do benefício. Se fosse campeonato, ganhava a medalha de ouro e o cartão magnético.

No Maranhão, a fila do pão é longa — não de quem quer comprar, mas de quem precisa receber. Mais de um milhão de famílias no Bolsa Família. Trabalhadores com carteira assinada? Metade disso. Se a estatística fosse um ônibus, teríamos dois sentados no auxílio e um em pé com crachá da firma.

O Norte e o Nordeste aparecem forte nesse pódio. Regiões historicamente empurradas pro canto do ringue — sempre com luvas furadas. O governo estende a mão, e é bom que estenda. Mas quando essa mão vira muleta vitalícia, alguma coisa está fora da ordem. E não é só a fila do INSS — que também, aliás, não deixou de ser saqueado.

Aí vem a parte que dá nó no estômago e riso nervoso: se você começa a procurar emprego, pode perder o benefício. Então instala-se uma lógica perversa: melhor não procurar. Melhor sumir da estatística. Melhor parecer menos pobre do que ser pobre demais.

Lá no outro extremo do mapa, em Santa Catarina, a matemática é outra: para cada beneficiário, há dez trabalhadores formais. O Bolsa Família é coadjuvante, não protagonista. Não porque o povo seja mais trabalhador ou use chimarrão — mas porque há mais oportunidade, mais estrutura, mais chance. Ou seja: mais Brasil.

Margaret Thatcher, com aquele sotaque britânico impaciente, já dizia: o sucesso de um governo não se mede pelo número de pessoas que entram em programas sociais — mas pelo número das que conseguem sair. Aqui, parece que quanto mais gente entra, mais likes no vídeo do ministro. Fala-se em inclusão como se fosse conquista — quando, muitas vezes, é apenas sobrevivência empacotada em PowerPoint.

O povo não quer esmola disfarçada de “justiça social”. Quer trabalho. Quer sair da fila do benefício não por corte, mas por conquista.

Porque, no fundo, é fácil alimentar a esperança com um cartão magnético. Difícil mesmo é dar ferramentas para que o povo não precise mais disso — nem da dependência que corrompe, acomoda… e rende voto.

Mas enquanto a mágica funcionar e a narrativa render, que a realidade continue escondida nos gráficos.

É mágica no escuro. Se alguém acender a luz, revela o truque.

Por Marcelo Duarte Lins



Um comentário:

  1. Esse cara é o autor de alguns livros. Um é "Caso Varig- A história da maior tragédia da aviação brasileira". Seus textos atuais são cômicos, porém esclarecedores. Ele dá uma pincelada na política e nos assuntos em voga com mestria.
    Vou acompanhar‼️👏👏👏👏👏

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