quarta-feira, 30 de abril de 2025

A caneta, o globalista e o jogo de xadrez


Por Marcelo Duarte Lins; Formado em Ciências  Aeronáuticas pela Academia da Força Aérea Brasileira; Piloto de Linha Aérea e Palestrante

Parece enredo de novela política com roteiro de série conspiratória: o ministro indicado por Bolsonaro prestes a assumir a presidência do TSE, um projeto para limitar os poderes da Justiça Eleitoral avançando no Congresso, e um deputado liberal — que não perde uma oportunidade de posar como paladino da moral iluminista — sendo acusado de sabotar o próprio time. O palco? Brasília. O pano de fundo? 2026.

Dizem que com uma “canetada”, Bolsonaro poderia voltar a ser elegível. Claro, desde que essa caneta esteja nas mãos certas e deslize sobre o papel com a leveza da conveniência política. Mas antes que o torcedor mais empolgado grite “é campeão”, entra em cena o deputado do NOVO, Marcel Van Hattem, com um projeto que… vejam só… limita os poderes do TSE. O mesmo TSE que, segundo seus críticos, virou nos últimos tempos uma espécie de superministério da verdade.

Não bastasse isso, o STF resolve apimentar ainda mais o tabuleiro: o ministro Fux, longe de anular processos contra Jair Bolsonaro, vota justamente a favor de torná-lo réu em ação penal, e ainda propõe que o caso vá ao plenário completo da Corte. A confusão vem de decisões antigas que apenas suspenderam — e não anularam — ações contra o então presidente, com base em dispositivos constitucionais. Ou seja: em pleno suspense eleitoral, a ficção corre mais solta que os autos do processo.

E como se não faltasse drama na Suprema Corte, o Senado também quis sua fatia de trama de espionagem: ESCÂNDALO NACIONAL! Davi Alcolumbre, tachado pelos críticos de “traidor da pátria”, impõe Jaques Wagner, do PT, como relator da PL da Anistia — aquela mesma que promete limpar esqueletos e aumentar ainda mais a desconfiança no Senado. O resultado? Uma crise de confiança pairando sobre a Casa Alta como nuvem carregada, pronta para descarregar no próximo golpe de placa.

A ironia, claro, salta aos olhos: quando a presidência do tribunal está prestes a cair no colo de um nome visto como “confiável” pela direita bolsonarista, o projeto que parecia feito para conter arbitrariedades pode, na prática, minar o poder de um aliado. É como cavar uma trincheira e descobrir que seu companheiro de guerra está do outro lado da linha de fogo.

É nesse momento que surge o termo mágico: “didireita”. Um apelido carinhoso, quase infantil, para rotular aqueles que dizem ser de direita, mas que, na visão dos mais fiéis, agem como inimigos infiltrados. Não basta estar no mesmo espectro político — é preciso estar no mesmo pelotão, no mesmo bunker, com a mesma mira.

O jogo está lançado. A peça do TSE se move, o projeto do NOVO avança, o STF dá rasteira e o Senado arma a cilada. Enquanto isso, o eleitor, esse personagem secundário que aparece só de dois em dois anos, observa tudo com a desconfiança de quem já viu muito roteiro promissor acabar em episódio confuso — e é aí que Jair Messias Bolsonaro volta ao centro do ringue: põe medo, arrasta multidões por onde passa e assusta o Sistema, que teme ser derrubado.

No fim das contas, talvez não se trate de direita, centro ou globalismo. Talvez seja só mais um capítulo da velha política com novas máscaras. Ou, quem sabe, só mais uma jogada de xadrez onde, para alguns, o rei ainda se chama Bolsonaro — mesmo que o tabuleiro esteja sendo redesenhado.

Um comentário:

  1. Marcelo, mais uma das suas excelentes crônicas !Obrigado rádio link !

    ResponderExcluir