Parece enredo de novela política com roteiro de série conspiratória: o ministro indicado por Bolsonaro prestes a assumir a presidência do TSE, um projeto para limitar os poderes da Justiça Eleitoral avançando no Congresso, e um deputado liberal — que não perde uma oportunidade de posar como paladino da moral iluminista — sendo acusado de sabotar o próprio time. O palco? Brasília. O pano de fundo? 2026.
Dizem
que com uma “canetada”, Bolsonaro poderia voltar a ser elegível. Claro, desde
que essa caneta esteja nas mãos certas e deslize sobre o papel com a leveza da
conveniência política. Mas antes que o torcedor mais empolgado grite “é
campeão”, entra em cena o deputado do NOVO, Marcel Van Hattem, com um projeto
que… vejam só… limita os poderes do TSE. O mesmo TSE que, segundo seus
críticos, virou nos últimos tempos uma espécie de superministério da verdade.
Não
bastasse isso, o STF resolve apimentar ainda mais o tabuleiro: o ministro Fux,
longe de anular processos contra Jair Bolsonaro, vota justamente a favor de
torná-lo réu em ação penal, e ainda propõe que o caso vá ao plenário completo
da Corte. A confusão vem de decisões antigas que apenas suspenderam — e não
anularam — ações contra o então presidente, com base em dispositivos
constitucionais. Ou seja: em pleno suspense eleitoral, a ficção corre mais
solta que os autos do processo.
E
como se não faltasse drama na Suprema Corte, o Senado também quis sua fatia de
trama de espionagem: ESCÂNDALO NACIONAL! Davi Alcolumbre, tachado pelos
críticos de “traidor da pátria”, impõe Jaques Wagner, do PT, como relator da PL
da Anistia — aquela mesma que promete limpar esqueletos e aumentar ainda mais a
desconfiança no Senado. O resultado? Uma crise de confiança pairando sobre a
Casa Alta como nuvem carregada, pronta para descarregar no próximo golpe de
placa.
A
ironia, claro, salta aos olhos: quando a presidência do tribunal está prestes a
cair no colo de um nome visto como “confiável” pela direita bolsonarista, o
projeto que parecia feito para conter arbitrariedades pode, na prática, minar o
poder de um aliado. É como cavar uma trincheira e descobrir que seu companheiro
de guerra está do outro lado da linha de fogo.
É
nesse momento que surge o termo mágico: “didireita”. Um apelido carinhoso,
quase infantil, para rotular aqueles que dizem ser de direita, mas que, na
visão dos mais fiéis, agem como inimigos infiltrados. Não basta estar no mesmo
espectro político — é preciso estar no mesmo pelotão, no mesmo bunker, com a
mesma mira.
O
jogo está lançado. A peça do TSE se move, o projeto do NOVO avança, o STF dá
rasteira e o Senado arma a cilada. Enquanto isso, o eleitor, esse personagem
secundário que aparece só de dois em dois anos, observa tudo com a desconfiança
de quem já viu muito roteiro promissor acabar em episódio confuso — e é aí que
Jair Messias Bolsonaro volta ao centro do ringue: põe medo, arrasta multidões
por onde passa e assusta o Sistema, que teme ser derrubado.
No
fim das contas, talvez não se trate de direita, centro ou globalismo. Talvez
seja só mais um capítulo da velha política com novas máscaras. Ou, quem sabe,
só mais uma jogada de xadrez onde, para alguns, o rei ainda se chama Bolsonaro
— mesmo que o tabuleiro esteja sendo redesenhado.
Marcelo, mais uma das suas excelentes crônicas !Obrigado rádio link !
ResponderExcluir